MALCOLM & MARIE

O NOVO AMOR

Bernardo José
3 min readFeb 19, 2021

A vida, essa turbulenta passagem entre momentos de prazer e felicidade, combinada com momentos de tensão e tristeza. Mas quando o prazer também é tomado pelas discussões, ainda podemos chamar isso de amor?

É isso que “Malcolm & Marie” discute, disposto dentre seus inúmeros tópicos que dizem respeito tanto ao contexto atual, além de relatos da vida do próprio diretor.

O filme, que recentemente estreou na Netflix, é a mais nova produção do inventivo realizador, Sam Levinson, que me atraiu por sua escolha estética, que trabalha bem nesse contraste entre duas forças em John David Washington e Zendaya, com quem também colaborou na sua série da HBO, “Euphoria”. Os atores, como esperado, potencializam e dão vida a seus personagens durante seus árduos e longos embates, que são abastecidos por um roteiro que soa quase como uma divagação de seu autor.

A produção se inicia enquanto os dois chegam em casa, vindos de um festival de cinema, no qual o filme de Malcolm havia estreado ao público. Porém, ambos não parecem estar satisfeitos e começam a se provocar, até que um deles “explode” e assim se inicia uma discussão.

Toda sua construção passa pelo espaço, que se coloca como uma casa afastada de tudo, centrada especificamente nesses dois indivíduos e nada mais. Unindo-se perfeitamente ao seu roteiro e cores, que sintetizam as duas personalidades, discutindo algo com um propósito tão raso em meio a assuntos tão relevantes.

A ideia de Sam Levinson de trazer um pouco de sua trajetória pessoal, colocando no contexto de temáticas atuais só enriquece a história que tenta contar. Oferecendo reflexões interessantes sobre o que consumimos, produzimos e fazemos essencialmente, tendo como perspectiva algum tipo de resposta ou retorno do outro, que só se amplifica ainda mais com o imediatismo das redes sociais.

Em seu cerne, Malcolm e Marie são um casal de narcisistas, que querem ser valorizados a todo o custo. Dessa forma, nunca estarão satisfeitos, pois sempre terão algo para transformar em argumento e causar outra briga.

Por isso, são com certeza o retrato de uma relação tóxica, mas nesse caso, que é sustentada por ambos. Essa, que só para quando alguém escancara e machuca os sentimentos do outro e os junta na medida em que seus interesses se convergem e suas virtudes são exaltadas. Tal relação tem como grande finalidade um mútuo apoio, seja a partir do prazer que apresentam nos seus desentendimentos ou na presença de alguém que sustenta seus próprios fracassos.

Nessa dinâmica de tensão e prazer momentâneo, eles sempre encontram um caminho de volta para a reconciliação, para começar mais um dia como se nada tivesse acontecido.

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